sexta-feira, 28 de outubro de 2011

22.POR ISSO ESCREVO



Estas a me perguntar
Por que escrevo...

Escrevo!
Para falar comigo mesma...

Mas você é enxerido
E me vem ao pé das letras
Ler os meus escritos...

Não é fácil escrever,
Ou rimar o pensamento...

Muito menos entender
Que nos traços de cada verso
Desencontro-me de mim mesma...

Cada verso que escrevo
E na folha deixo escrito
É como se o que leio,
Nunca de mim tivesse saído...

Se faço graça com as palavras
Ou se arranco da alma
Os gemidos,
Deixo o eco de mim mesma
A propagar-se pelo infinito...

Em cada traço que registro
E releio o que foi escrito
Desconheço-me de mim mesma,
Entrego a outros meus sentidos...

Se falo do amor,
É por ele ter vivido
E me distraio nas palavras
Aquilo que estava escondido...

Se descrevo a saudade,
É por que ela foi sentida
Ao naufragar nas lembranças
Fragmentos de minha vida...

Se do medo faço prosa,
Disfarço a insegurança
Por um dia nessa vida
Ter perdido a esperança...

Se descrevo a loucura
E as fases insanas
É por que na busca do equilíbrio
Acabei em descompasso...

Se na dança das palavras
Crio rimas e poesias
É por que na alegoria da vida
Nada teria sentido
Se não deixássemos na forma das letras
A nossa essência...

Nessa dança da escrita,
Escrevo em vários idiomas
A palavra VIDA...

Se das letras faço obra,
E das palavras busco canção,
São cores que vem da alma
Como o branco do algodão...

Se nas fases da vida,
Inspirei os meus escritos
É por que vejo na existência
As razões da criação...

Ao isolar-me em minha obra,
Me dou mais uma chance
De reescrever a minha historia
Como se fosse apenas figurante...

Já não sei se falo doce
Ou se firo os instintos
Mas ao escrever arranco do peito
A palavra solidão...

Salvo no papel minha intimidade,
Com palavras infinitas,
Aquilo que habita minha
Caverna humana...

Na cadencia do lápis
E no deslize das mãos
Vou deixando por onde passo
Um pouco de ilusão.

Por isso escrevo!


Albertina Chraim

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