domingo, 20 de outubro de 2013

233. RESTOS


Ando sem medo
Por tudo que ela me deu
E os anos de minha historia
Confundem-se entre ela e eu...

Não me vejo sem ela,
E ela sem mim, não seria eu...

Sigo cada segundo
Mirando o céu e a terra
Tecendo realidades e utopias
Sem definir o que há entre ela e eu...

Ao chegar-me nesse mundo
Já me encontrei com a partida
Como se o fim e o começo
Fossem as paralelas da vida...

Se de um lado é a partida
Do outro se faz a chegada...

E nos trilhos por onde passo
Deixo as marcas de minha estada...

E nessa trilha
De verdades e fantasias
Vou vivendo cada segundo
Como se fosse um recomeçar,
Um despertar de um novo dia.

E o que sobra desses instantes
E o que resta da vida
Se não fosse a essência
Entre a chegada e a partida.

Albertina Chraim

232. O MISTÉRIO E O POETA


Há um mistério profundo
Nas mãos de um poeta
Ao deslizar por entre os dedos
A vida em forma de letras...

Há um misto de ironia
Nas falas de um Poeta
Ao descrever com poesias
A vida, mesmo quando não há festa...

Há um misto de arrogância
Na essência de todo poeta
Ao deixar seus registros
Como se viessem deles
A fala de um profeta...

Há um tanto de inocência
Nos escritos do poeta
Ao permitir lançar traçados
Em mentes indiscretas...

Em seus rabiscos,
Muitas vezes obscenos
Descortina o Outro
Que na caverna deste humano
Habita o escondido.

Albertina Chraim

sábado, 19 de outubro de 2013

231. O ÓCIO DO POETA




Não ha poeta sem alma,
Nenhum poema é vazio
Mesmo que lhe pareça oco
Foi da alma que pariu...

Poemas são feitos de alma
É a alma enriquecendo o vazio
É o ócio do poeta
Mesmo que lhe pareça vil.

Poemas são feitos de alma
Ë a alma dando sentido ao vazio
Mesmo que nesta alma
Aprisiona-se um coração vadio

Albertina Chraim

234. ESCRAVA DAS PALAVRAS



Escravizam-me as palavras
Num fascínio sem proporção
Muitas vezes, maior que a própria dimensão...

Não sei de onde isso me vem
Colho-as como quem se encontra num vasto pomar,
Saboreando os frutos de cada estação
Ou quem sabe perde-se num deserto
No meio da solidão... 

Ao atravessar esse deserto
Deparo-me com a ilusão
De  que cada uma delas,
Quando profanadas,
Adentram-me como fagulhas  
Aquecendo-me a alma...

Nessas andanças,
Não foram poucas as palavras que dilaceradas,
Outras muitas amadas,
Escreventes me fizeram vida...

Palavras de ordem,
Outras tantas de desordem...

Palavras, sempre as palavras!
As ditas, as não ditas,
As santas quem sabe,
As mal ditas,
As ouvidas,
Outras apenas sentidas...

As palavras doces,
As palavras sem vida.
Palavras soltas,
E tantas palavras esquecidas...

Palavras que me desconsertam
Quando em concertos me acertam.

Por meio das palavras ouço os tons de tantas vozes,
E quando mudas,
Amadora me deito seu gesto
Alinhavando as  acaricias em meu corpo...

Tantas palavras doces, sorrateiras,
As palavras safadas desordeiras...

Palavras que não cabem em explicação.
Somente aprende a escutá-las quando se perde a razão...

Palavras!
Às vezes lúcidas,
Às vezes apaixonadas...

As palavras têm seu peso,
Como o amor que em surdina desequilibra a razão.

Palavras soltas trazem estragos,
Expondo-nos ao perigo,
Porem quando juntas constroem tantos abrigos...

Talvez seja a palavra o bem maior de toda uma civilização,
Quando por meio delas são tomadas tantas decisões.

Ah!
As palavras,
Coisa do tão feminino
Se, homem ou mulher,
Diante dela se desmancharam tantos castelos...

Um “sim” ou um “não” –
Não faz a diferença - quando as palavras são jogadas para fora da alma,
Desfila-se sobre terra
Os desejos do coração.


 Albertina Chraim

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

230.ABANDONO


O vazio rebelou-se em vida,
E no espaço que permeava
Da matéria surgiu o oco...

Cobriram-lhe de solidão
Como um móvel escamoteado
Por aquele lençol branco...

Driblaram-lhe a poeira
Acobertando-o de ausências...

E a vida assim, revelou-se!

E ele que nasceu tosco,
Viveu torto,
Acabou-se,
Muito embora ainda com vida,
Já morto.


Albertina Chraim