sábado, 19 de outubro de 2013

234. ESCRAVA DAS PALAVRAS



Escravizam-me as palavras
Num fascínio sem proporção
Muitas vezes, maior que a própria dimensão...

Não sei de onde isso me vem
Colho-as como quem se encontra num vasto pomar,
Saboreando os frutos de cada estação
Ou quem sabe perde-se num deserto
No meio da solidão... 

Ao atravessar esse deserto
Deparo-me com a ilusão
De  que cada uma delas,
Quando profanadas,
Adentram-me como fagulhas  
Aquecendo-me a alma...

Nessas andanças,
Não foram poucas as palavras que dilaceradas,
Outras muitas amadas,
Escreventes me fizeram vida...

Palavras de ordem,
Outras tantas de desordem...

Palavras, sempre as palavras!
As ditas, as não ditas,
As santas quem sabe,
As mal ditas,
As ouvidas,
Outras apenas sentidas...

As palavras doces,
As palavras sem vida.
Palavras soltas,
E tantas palavras esquecidas...

Palavras que me desconsertam
Quando em concertos me acertam.

Por meio das palavras ouço os tons de tantas vozes,
E quando mudas,
Amadora me deito seu gesto
Alinhavando as  acaricias em meu corpo...

Tantas palavras doces, sorrateiras,
As palavras safadas desordeiras...

Palavras que não cabem em explicação.
Somente aprende a escutá-las quando se perde a razão...

Palavras!
Às vezes lúcidas,
Às vezes apaixonadas...

As palavras têm seu peso,
Como o amor que em surdina desequilibra a razão.

Palavras soltas trazem estragos,
Expondo-nos ao perigo,
Porem quando juntas constroem tantos abrigos...

Talvez seja a palavra o bem maior de toda uma civilização,
Quando por meio delas são tomadas tantas decisões.

Ah!
As palavras,
Coisa do tão feminino
Se, homem ou mulher,
Diante dela se desmancharam tantos castelos...

Um “sim” ou um “não” –
Não faz a diferença - quando as palavras são jogadas para fora da alma,
Desfila-se sobre terra
Os desejos do coração.


 Albertina Chraim

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