segunda-feira, 31 de outubro de 2011

36. LEMBRANÇAS





Ao transcrever para o papel 
As marcas de sua historia,
O  homem  deixa  público  
A essência de sua memória...

Revela sonhos,
Mostra traços,
Revive a velha infância... 

Não sabe se ri ou se chora 
Quando aliena na escrita 
O que restou de sua história...

E agora como órfão 
Se apega ao que escreveu
Como se fosse isso, 
A única certeza que sobrou do que viveu... 

Num misto de sensações
Entre ficção e realidade,
Suas emoções se confundem 
Como se não fosse sua,
A própria identidade...

Retoma o tempo,
Acelera a vida,
Visita lugares como se fossem  suas lembranças,
Profundezas de uma caverna desconhecida... 

E o homem agora nobre,
Carregado de historia,
Vasculha livros,
Varre cantos de suas experiências inglórias...

Mas, que destino é esse,
Impregnado de lembranças?
O homem agora arrasta pela vida,
A saudade de criança... 

E então já maduro 
Apropria-se de seus contos... 

E no ato de reflexão senta o filho no colo
E vai ensinar-lhe a lição... 
– Um homem sem memória meu filho, 
Não tem vida, 
Não tem perdão!

E então ainda criança,
O filho nesse instante
Fita o homem dos  olhos emaranhados... 

Vê correr na face antiga
As lágrimas de uma vida, 
De seu pai,
Retirante...
Com um nó na garganta, 
Suplica ao próprio filho:
- Não deixe morrer meu legado! 

Então ainda menino,
O filho segue a sina 
Servindo como testemunho
Que as historias jamais terminam...

Se o principio começa do fim, 
Essa passagem é um rito,
E  agora o velho homem 
Pode viajar sossegado pelo infinito...

Que total responsabilidade
Deste filho ainda infante...
Ter que dar continuidade  
À escrita  deste  errante!

E assim como despedida 
Com a mão estendida
O homem abraça o filho 
Agora iniciante - escritor da própria vida...

E o filho pela mão,
Firma no lápis da vida
Mais um escrito em construção...

E o homem em dividida
Já morto!
Embora com vida!
Sai de cena...

Se morreu ou se está vivo,
Deste homem
Mais nada se sabe...

Mas sabemos que o infante,
Que foi filho deste errante,
Embora morto de saudade...
Agora segue adiante 
Resgatando o que sobrou do velho pai...

E o velho escritor,
Desta escrita  enfarado,
Nesta vida só queria
Ser feliz e
Ser amado!

Albertina Chraim

35.LOUCOS SÃO OS HOMENS


Espetar sentimentos
Na ponta do lápis que tatuam no papel,
Sua fragilidade das marcas da vida,
Requer intimidade com seu EU...


Transformar as palavras em poesia
Requer vulnerabilidade
Dos músculos estriados...


Que alongam as fibras, 

Ruminando o sentido da inquietação... 

O velho corpo escrita, 
Pulsa em movimentos compassados...

Senta e levanta,
Estica e encolhe,
Arca e alonga,
Regurgita e engole...


Ah, como é lindo o bailar da escrita,
Como um corpo lascivo, 
Exala respiração...

Desliza pelas veias o rubor da expressão,
Excreta das entranhas,
O que há de mais vil... 


Esse corpo que sustenta, 
Ampara e equilibra,
É o mesmo que fere a folha,
Feito as cicatrizes deixadas pelas feridas... 


Sofrer agora é condição, 
De uma estrutura em evolução...


O corpo que chora
Já não é o mesmo que ri,
O corpo que escreve 
Já não é o mesmo que apaga...

O corpo que escuta 
Já não é o mesmo que eu vi...

Ah!
Esse corpo que pensa que escrever é pra si,
Vai da gloria ao inferno, 
Quando se nega a ouvir... 


Esse corpo que implora, quando seu único desejo
É sentir...

Um corpo duo, de doar e pedir,
Doa em forma de palavras o escutar e o porvir... 


O escutar que vem do outro,
O porvir que vem de si,
São formas diferentes de chorar ou de sorrir... 


Qual pedra que rola a ribanceira 
Vem arrasando o sentido de existir...


Esse sentido que vem da alma 
Que o corpo persiste em insistir... 


Alguém diz que: a alma não será pequena enquanto tudo valer a pena.
Mas também mente quem diz que escrever nos torna livre,
Deixa a alma mais serena...


Ledo engano!

Escrever requer corpo,
Pois é, assim que se suporta
A fúria dos monstros que habitam o ser humano...

Esses monstros são gatinhos 
Quando brincalhões e reservados,
Atrevidos e recatados,
Melindrosos ou modestos 
Se tornam malabaristas das cordas bambas acima do inferno... 


Quando revoltos, parecem desumanos,
Cruéis e mal nascidos,
Descomunais abomináveis,
Capazes de destruir o que resta do universo... 


Como pode, o corpo escrita,
Habitat das idéias,
Expressões e sentimentos 
Manifestar-se nesse silêncio 
A fúria interna humana qual vulcão em erupção?

Loucos são os homens, quando ainda primitivos
Aprendem na escrita a desenhar seu próprio nome... 

E nas telas do alfabeto, 
Suas historias vão passando,
Jogam sobre o solo a sua essência...


Lastram no papel  a inconsciência
Para  não perder a esperança...
            
Se é a esperança a ultima que morre,
Porque  matar  a idéia na folha alva da vida
Como se nessa  folha estivesse a cura de suas mazelas?


Se o homem tem um corpo,
É nesse corpo que co habita,
Que ficam as marcas de uma vida preterida...

Esse corpo que faz escrita
É a matéria que guarda o sentido de sua vida...


Esse corpo que evolui e morre
É o mesmo corpo que  encolhe 
Quando suas  palavras são tolhidas.

          
Albertina Chraim

34.APENAS FANTASIAS


A cria se entrega a força,
Expressa em forma de animação,
Cria/ação...

Retoma o começo,
Como rito de iniciação...

A ação, em forma de silêncio segue a cria,
Como turbilhão, revoltando os desejos,
Sentimentos em pulsação,
De um livre Ser em humanização...

A escrita é como filha pródiga,
Que desprende tremenda profusão,
Causa náuseas,
Confunde,
Vive  como animal que mama, já em extinção...

É impossível não sofrer quando nos deparamos
Com o remanejo de nossa produção...

Nos faz remexer,
Nos  desacomoda das situações,
Nos habilita a releitura de nossa cria-ação...

E o homem é masoquista,
Ri e chora,
Acorda e dorme,
Alimenta –se e defeca,
Doa  e implora,
Corre e para,
Fala e se cala,
Escreve e apaga,
Antes de fixar na memória a transição de sua trajetória...

Um caminho de varias formas,
Que pode ser visto por vastos horizontes...

Nem sempre tão certeiros,
Nem sempre tão errantes...

O autor pari a escrita,
Tal qual fera lambendo a cria,
A agasalhar como se seus ditos,
Agora nem tão malditos fossem para sempre,
As profecias de seu destino bem dito...

Em total abandono.
Como mãe que reconhece o filho,
Mas não o aceita como cria,
O escritor revela suas histórias na busca de ser feliz...

Por meio do letramento,
A escrita é seu guia,
Escrevendo parte de si,
Segura o lápis,
Solta a vida,
Fingindo que o escreve
São apenas fantasias.

Albertina Chraim

33.SIMPLES MATA BORRÃO


Ao soltar a voz no papel 
Em forma de escrita,
As idéias se tornarão para sempre
Inseridas...
No movimento da escrita 
A emoção escorrega feito água das enchentes,
Em calhas, atoladas pelas folhas secas jogadas,
Desejando a primavera...
Ao libertar o lápis, 
Em cima da folha já não tão alva, 
O escritor desperta... 
Seu olhar fita a ponta, gasta pela pré tensão
Que jaz em forma de pinça 
Sobre a lápide do papiro...
Escrever é essa forma ritualista 
De limitar um território 
Tão desconhecido,
Em forma de prazer 
Que deseja não ser esquecido...
Ao sepultar seus pensamentos 
Como se fosse o papel apenas  um jazigo,
O escritor se julga protegido...
Obreiro de suas marcas, 
Grafita em forma de letras sua parede humana...
Escala feito alpinista 
Atado em suas amarras,
Tal qual feto grudado ao ventre materno...
E das entranhas do feminino,
Nasce talvez um menino,
Ainda moleque a revelar seu destino...
E assim se faz o homem,
Sozinho e rabiscado
Pelo mundo a decorar seu traçado... 
Faz curvas e deixa marcas
Grafitando seu destino, 
Vive e cria histórias,
Imaginando ser a vida 
Um simples pergaminho... 
Sua essência se revela,
Traz à tona suas quimeras...
Carrega em suas verdades
Um mito de fantasias...
Algumas vezes parece humano,
Outras vezes mitologia...
Escrever então é isso,
Um ato de conservar a ação...
Num rito de risca e rabisca, 
Busca absorver sua essência
Como se fosse o Homem 
Um simples mata borrão!

Albertina Chraim

sábado, 29 de outubro de 2011

32.A LUZ DO DIA



A chuva que molha a terra
Regando a plantação
É a mesma chuva
Que arrasa as ruas
Arrancando nossas calçadas...


A chuva que abastece os rios
Fertilizando nossos campos
É a mesma  chuva que devasta
Destruindo os remansos...

O homem que  dá a vida
Criando as gerações
É o mesmo homem que  aborta o feto
Renegando sua cria...


A mão que afaga  
Acalmando nosso pranto...

É a mesma mão que espanca
Ferindo as relações...


Se, de todas as historias
Temos as duas versões...


A natureza também
Nos  espelha
Com suas  imprevisões...


Se faz sol
Ou se faz chuva...


Faz vento
Ou calmaria...


Depois  do escuro breu
Ressurge a luz do dia...

Albertina Chraim

31. SEMENTES



A mente mente
Quando nossas sementes
Que nascem da gente
Transformam-se em gente...



A gente se sente 
Sem mente
Quando de forma eloquente
Semeamos a própria mente...



Mente quem renega 
As sementes,
Das novas mentes
Que brotam da terra
Como pedaços da gente...



Se mentes que o
Que plantas não germinarão
Outras mentes,
Ficaras sem mente,
Como sementes dementes.


Albertina Chraim

30.FILHOS



No silêncio do universo
Entrelaçam seus destinos...


Vão em busca de si mesmo
Desbravando seus caminhos...


Quando  depararem  como indivíduos
Ainda sem  direção...


Não se  percam  desta mulher
Que lhes ensinou a lição...


De  mulher me fizeram mãe
Deste amor incondicional
A cuidar-lhes em meu ventre
No aconchego do ninho fetal...


Entre amor e sentimentos
De vê-los Seres em evolução
Fica a certeza de que
Morreu a mulher
Mas nasceu a mãe...


Brotou ainda menina,
Em forma feminina
Para embalar as suas sinas...


E das noites que passei em claro,
Acalmando seus prantos
Estava naquele momento
Agasalhando-os com meu manto...


Este manto é sagrado 
Por ser amor diferente
De um tipo de Ser  que cultiva a vida
Do humano em seu ventre...


Se lhes digo que a felicidade
É algo que não se encontra
É por ter a certeza
Que o maior bem do mundo
É esse sentimento profundo
De ver meus rebentos
Desvendando o segredo do mundo...


Talvez a tal felicidade
Seja o dom da mulher
Exercer a maternidade...


Então sigam seus rumos
Na imensidão deste universo
E na musica que sobrar  o vento
Anunciando a saudade
Lembrem-se que a melhor canção,  
É o acalanto de quem lhes apresentou o mundo...


Sentiu-os ainda feto,
Guiando-os pela vida,
Os vê agora grandes...


Mas o amor por essas crianças  
Que  habita em minha memória
É como se o tempo os congelassem
Como meus  eternos meninos...
Albertina Chraim

29. A LUA EM PERIGEU



Quando a lua se aproximou da terra
Trouxe  em seu clarão, o amor,
Da forma mais bela...

Não veio montado em um cavalo branco,
Nem tão pouco disfarçado de príncipe encantado...

Veio em forma de serenidade, 
Unindo dois corações abandonados...

É a lua em perigeu, que iluminando a terra,
Veio atar o seu olhar, junto ao dela...

E os dois corações,
Que seguiam em silêncio...

Foram guiados pela lua,
A escoltar este momento...

E a lua em perigeu
Abancou-se próximo a terra...

Para mostrar a esses corações
Que a solidão se fez necessário
Para que eles  se enxergassem 
Como eternos enamorados...

Não vem em pauta a questão,
Se  é real ou é ilusão...


Pois quando duas mãos se afagam
Aproximam-se os corações...


Para quem sabe,
Em noites frias
Acalmar a solidão...

Que ironia desta vida ,
Que em ciclos revolta as horas...

E se ontem eram sozinhos
Hoje! 
Ela é a senhora de seu destino
E ele é o seu doce peregrino...

Não são jovens, nem meninos,
Nem tão pouco anciões...

São apenas duas vidas,
Dando adeus para a solidão...

E a lua em perigeu
Ao unir dois corações
Afastou-se toda faceira...
Por ter cumprido sua missão.

Albertina Chraim

28.VIVÊNCIA

                                                                           


Que estranha sensação 
Ver escorrer pelas beiradas
Como vela derretida 
Nos candelabros da vila...

Tal qual um campanário
Vou tocando os  sinos
Como quem ainda pagã 
Vou  rezar  no santuário...

Não sei se vai ser curta, 
Ou se alonga minha jornada...

Com suavidades  ou  penitencias 
Vou  deixando o meu  legado...

Com as mãos mesmo pequenas 
Segurando a minha cruz,
Vou vivendo cada instante 
Na busca de um caminho de luz...

Como grande forasteira, 
A viajar por esse mundo
Encontrei  um grande  amor 
Para dividir  o encantamento...

Vou obrando a minha  obra, 
E no meio do romance
Com a paixão já arrefecendo 
Aprendi a diferencia 
Do que  é amor,
Do que  é paixão...

E assim, vou consumindo cada segundo 
Como se fosse o ultimo instante...

De estar vivo no universo 
Ainda como amante...

E das marcas de meu destino 
Minha  vida se alimenta
Sigo  buscando em cada curva
A referencia de minha  historia...

E no silencio de cada fase 
E nas tormentas  do pensamento
Vou jurando a mim mesma 
Que tudo vale a pena...

Se matei ou vai morri, 
Se sorrir ou vai chorei...

Se falei   e ou me calei
Foi na busca do  firmamento.

Albertina Chraim