terça-feira, 1 de novembro de 2011

38.HERANÇA



Ao rabiscar as paredes,
Ainda na casa de seus pais,
O homem já dá sinais 
Do que sabe e é capaz...

Vai contar a própria vida, 
Mesmo que ainda não toda vivida, 
Tornar-se-á sábio, 
Diferente dos  outros animais...

Vai do humilde ao homem culto,
Do alegre ao infeliz...

Não importa qual vai ser seu nome,
Se vai ser santo ou meretriz...

O homem vai cumprir pela vida sua missão
Transgredindo idéias no pensamento,
Vai cumprir a sua função...

Fazer escritos ou deixar dito, 
São formas diferentes
De registros ou declaração
 
Deste homem em disparada 
  Correndo contra o tempo...

De manha ainda que tímido, 
Faz rabiscos e garatujas
E a tarde quando cresce, 
Arrisca deixar escrito suas aventuras...

Ao ler o que escreveu,
Quando era inda menino,
Esse homem vê seu destino 
Escorregar feito sabão...

Ainda ontem de manha, 
Seguro pela mão
O menino pedia ao pai  
Para ensinar-lhe a lição... 

E agora então mais tarde, 
Velho homem já caquético, 
Com  o livro de baixo do braço 
Vai reler a sua obra...

Com cuidados e polidez
Agora é a sua vez,
Do homem que era menino 
  Deixar por escrito seu destino...

Assim como Narciso, 
Sua escrita lhe convêm 
Sem direito a uma análise 
Se contenta com o que tem...

Se, então quando menino,
Ter fome era não ter comida,
Agora quando anoitece  
A miséria e a avidez 
É o desejo  insaciável 
De voltar tudo outra vez...

Mas, o tempo é implacável,
Consome os segundos com altivez...

Quando  ele mal  percebe, 
Já esta morto,
Perdeu a vez...

Como é triste esta realidade, 
Depois tantas experiências 
O homem  sobrevive apenas,
Com o que restou da essência...
   

De que vale tantos cargos,
Ser famoso,
Proprietário,
Se nesta vida  só deixou,  
Seu  inventário...

Entre tantos filhos que gestou
  E as historias que pariu,
 Talvez apenas um vá trilhar  
  O caminho em que ele pisou...

É assim a transmissão 
Deste  pai afortunado, 
A maior riqueza que deixou  
Foi o escrito do passado...

E assim como magia, 
A vida perde força,
Vai ganhando notoriedade  
Como beleza de moça...

Com o corpo já vencido, 
Pelas trincheiras da vida,
O homem prepara a mortalha 
Como se fosse essa,
Seu  ultimo prato de comida...

Já não  importa tantos euros,
Nem as dores que sentiu,
Muito menos os aplausos 
Que esta vida lhe consentiu...

Agora o homem  nobre 
Que desta vida  ficou pobre
Por perder de vez a sorte  
De não ser mas o homem viril...

E assim a humanidade, 
Representada por cada sujeito,
Em busca  de sua identidade 
Só se da conta  que o que buscava
Estava bem próximo deste leito...

E agora jaz em vida, 
O  homem nega a partida 
Como um abalo violento
De alguém que deseja sua vida repetida... 

Mas agora já é tarde,
Esta perto da fronteira 
Entre a vida/morte,
E o sepulcro é sua trincheira...


Se soubesse nessa vida  
Que a partida é essa ferida,
Teria sofrido menos, 
Reescrito melhor a vida...

Então  o escritor,
Na cadeira de balanço 
Olha os netos ainda que tansos 
A brincarem como a própria vida...

Se pudesse  explicar, 
A esses sujeitos crianças,
Que  as brincadeiras não terminam 
Enquanto  homem trás consigo  a esperança...

Entre tantas algazarras,
O homem se balança, 
Relembrando  em cada sorriso dos netos,
Sua  vida de infância...

E assim será transmitido 
Entre tantas gerações 
O que passa de pai pra filhos 
O que é real  o que  é ilusão.


Albertina Chraim

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