Se despe desta vida assim
Como chegou ao mundo...
Pés no chão e desdentado
Como chegou ao mundo...
Pés no chão e desdentado
Com as idéias já demente
Quando entende que quando gente
Era feliz e foi amado...
As lembranças já não existem,
Era feliz e foi amado...
As lembranças já não existem,
Esqueceu seu próprio nome...
Se tem fome, já não se sabe,
Se tem dor é da realidade
Que a vida o condenou a um leito adoentado...
O coração já não pulsa,
O coração já não pulsa,
O pulmão já não respirada,
E as mãos já não seguram
O que conquistou desta vida...
Se soubessem a ainda menino
O que conquistou desta vida...
Se soubessem a ainda menino
Que viver é uma oficina, os homens então
Reescreveriam de outra forma
A sua sina...
Não contariam tais verdades,
A sua sina...
Não contariam tais verdades,
Soltariam da tal alma,
As suas ansiedades...
Jogariam então as mágoas
Jogariam então as mágoas
Que condenam a humanidade
A sofrer e denegrir a própria felicidade...
E o homem ainda pequeno escreveria poesias,
E o homem ainda pequeno escreveria poesias,
Dos textos só alegria.
Em forma de fantasias..
O homem cortejaria a vida
Como palhaço e suas alegorias...
Mas a vida não tem pena,
Mas a vida não tem pena,
Esse homem que nasceu,
Dormiu no ventre materno,
Correu ainda criança,
Achando que suas pernas alcançariam as mil léguas da esperança...
Adolesceu feito gigante
Adolesceu feito gigante
Brincando a todo instante
Amadureceu como amante
Com o peito cheio de flores
Com o peito cheio de flores
Ao se entregar a tantos amores...
E agora já então velho,
E agora já então velho,
Desta vida se despede sem ter sobrado na lembrança,
As memórias de criança...
O que restou de sua historia,
O que restou de sua historia,
Foi o corpo que ainda transita como carne
Que apodrecem ainda com vida...
E agora a sua prole,
E agora a sua prole,
Num riso disfarçado,
Vai chorar a morte,
Deste homem afortunado que de inquieto,
Agora jaz sossegado...
É assim que termina
A escrita desta vida em oficina...
Onde o homem faz de sua vida uma corrente,
É assim que termina
A escrita desta vida em oficina...
Onde o homem faz de sua vida uma corrente,
Mesmo em meio a tanta gente
É sozinho retirante...
Mas feliz foi esse homem
É sozinho retirante...
Mas feliz foi esse homem
Que não foi abortado em vida...
Chegou a esse fim,
Chegou a esse fim,
Pois viveu eternamente
O sentido de existir...
Quando os olhos se serrarem
Quando os olhos se serrarem
E o tempo perder o sentido,
Este homem deseja agora
Habitar o seu jazigo...
E ainda solitário,
E ainda solitário,
Deste outro mundo, nada se sabe...
E o que era corpo, agora segue
E o que era corpo, agora segue
O caminho do desconhecido...
Como restolho de esperança
Como restolho de esperança
No seu quarto enlutado
O homem olha uma criança...
Mesmo em meio a tanta gente
Mesmo em meio a tanta gente
Solitário e disfarçado,
Na mão ainda pequena
O menino pega a pena...
A rabiscar as paredes,
O menino pega a pena...
A rabiscar as paredes,
Desta vida, ainda serena...
Com um suspiro aliviado,
Com um suspiro aliviado,
O homem fecha os olhos,
Ao ver cumpri seu legado...
Nessa vida já não está,
Nessa vida já não está,
A sofrer como era antes
E a continuação dessa historia ficará
Nas mãos deste infante.
Albertina Chraim
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